Apesar dos eventos extremos que atingem a maior parte das regiões do país, o assunto mudanças climáticas não aparece em 37% dos planos de governo dos candidatos a prefeituras nas capitais brasileiras.
Um levantamento feito com base nos planos de governo de 94 candidatos à prefeituras que têm mais de 5% de intenção de voto em todas as capitais de estados, aponta que o tema meio ambiente sequer aparece nas propostas de três candidatos.
Já as mudanças climáticas não são mencionadas em 26 planos. Outros nove candidatos abordam o tema de forma superficial, sem apresentar propostas completas ou planos de ação estruturados.
O Brasil vive um índice de queimadas recorde em pelo menos três dos principais biomas brasileiros: Amazônia, Pantanal e Cerrado. Além disso, o território enfrenta a pior estiagem dos últimos 44 anos, e mais de mil cidades brasileiras estão sem chuvas há pelo menos três meses.
Apesar do cenário alarmante, apenas 20 candidatos possuem mais de um eixo voltado para o meio ambiente em seus planos de governo. Eles são focados em sustentabilidade, combate a enchentes e preservação de florestas.
No entanto, mesmo entre esses candidatos, a questão das mudanças climáticas é tratada com menor frequência. Entre os planos analisados, 60 candidatos mencionam as mudanças climáticas, mas apenas 20 deles falam sobre o tema de forma recorrente, com mais de 10 menções.
Além disso, 26 planos não abordam as mudanças climáticas, e nove mencionam o tema apenas uma vez.
Júlio Pedrassoli, coordenador da equipe Urbano do MapBiomas, diz que o cenário de mudanças climáticas já é uma realidade e precisa ser incluído de forma aprofundada no planejamento e nortear as leis municipais e outras políticas públicas.
A mudança climática tem que ser implementada como parâmetro de governo e como parâmetro de planejamento. Pensando que o governo é um período do tempo, mas toda política que se implementar no governo, ela tem que ter alguma perenidade”, afirma Pedrassoli.
Para ele, os planos têm desconexão com os outros temas como desenvolvimento econômico.
Não tem metas, então a gente não sabe o quanto estão prometendo. Alguns (planos) dizem uma coisa muito simples. ‘Vamos aumentar a quantidade de árvores’, mas onde? Quando? Até quando?”, completa.
'Sustentabilidade' e 'enchente' são destaques
Entre as palavras mais utilizadas nos planos analisados, “sustentabilidade” apareceu 874 vezes, “enchente” 132 vezes e “floresta” 94 vezes. Em contraste, “racismo ambiental” foi citado apenas 5 vezes.
Estamos correndo atrás de um modelo de desenvolvimento do século 20, mas com o século 21 essas características são outras”, afirma Roberto Montezuma, Arquiteto e Urbanista, professor e pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Essas cidades, elas precisam ser repensadas, reinventadas. De uma maneira geral, as cidades precisam ser reinventadas para responder esses desafios globais e locais”.
Racismo ambiental
O termo "racismo ambiental", usado para falar sobre como as mudanças climáticas afetam mais as comunidades marginalizadas, apareceu em apenas quatro planos de governo.
No total, a palavra foi citada cinco vezes: três candidatos mencionaram o termo uma única vez e de forma breve, enquanto um candidato citou o termo duas vezes e apresentou uma proposta mais elaborada para tratar da desigualdade ambiental.
Pedrassoli reforça que os desafios climáticos enfrentados pelas cidades pedem uma ação mais forte.
Os candidatos em geral, quando eles são questionados sobre isso, eles tendem a dizer que isso é apenas uma diretriz. Mas com diretriz não se mudam cidades, a gente precisa ter ações concretas com uma descrição mais detalhada”, alerta.
Então, na falta de uma palavra melhor, são fracas as propostas colocadas e elas não vão dar conta frente ao cenário que a gente está vivendo”.
g1