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Shawn Levy e Ryan Reynolds resgatam duas décadas de cinema em homenagem pós-irônica

Desde a aquisição da Fox pela Disney, os fãs de Deadpool se perguntam como a casa do Mickey Mouse lidaria com o universo desbocado e paródico do mercenário. A resposta vem após cinco anos, em um filme recheado de autocrítica, tiração de sarro e também de saudosismo. Deadpool & Wolverine celebra esse legado com o humor característico do personagem enquanto faz o estúdio rir de si - e da finada Fox - com um misto melancólico e enérgico de reverência e irreverência.

Para apoiar essa viagem no tempo pela história da Marvel na Fox, o filme coloca como co-protagonista um dos rostos mais icônicos do cinema de super-heróis. Após ver seu personagem morrer em Logan (2017), Hugh Jackman retorna ao papel de Wolverine em uma versão (ainda) menos heroica e reticentemente em busca de redenção. Culpando-se pelo fim dos X-Men em seu universo, o mutante se junta a Wade Wilson (Ryan Reynolds) em uma tentativa arriscada de consertar as coisas nos universos de ambos - menos por ser convencido da missão e mais por ser arrastado por ela.

Enquanto tenta dar sentido à sua trama, o filme navega pelas águas multiversais do MCU, causando um turbilhão de referências e participações especiais inesperadas, que se dividem entre galhofa e saudosismo. Deadpool & Wolverine se esforça para manter a energia caótica e desrespeitosa do personagem, permitindo que ele pise no passado do Marvel Studios, mas com limites — o que se destaca na interação entre a dupla de protagonistas. Com isso, a produção se apresenta como uma história do mercenário boca-suja, porém, também lembra que agora ele está sob o olhar cauteloso da Disney, que evita assustar seu público “família” sempre que possível. Os palavrões vêm, portanto, acompanhados da missão nobre pró-família & amigos.

O crédito por esse indispensável equilíbrio fica para o astro e produtor Ryan Reynolds, que assina uma colaboração no roteiro e se coloca mais ostensivamente em cena, como na variante do coque samurai que brinca com o ego do galã. Ao lado do diretor Shawn Levy, parceiro de longa data de Reynolds (Free Guy, Projeto Adam) e de Jackman (Gigantes de Aço), os protagonistas dão ao longa-metragem as doses certas de humor, nostalgia e drama. Reynolds ganha em Jackman e Levy parceiros valiosos para dar ao filme um estofo para além do fiapo paródico de trama.

Ainda assim, as tantas referências e participações especiais fazem o longa patinar entre contar de fato uma aventura multiversal ou apenas rir dela (ironicamente ou respeitosamente); o fato de Deadpool fazer piada recorrentemente com a exposição denota esse incômodo que o próprio filme demonstra com a “obrigatoriedade” de fazer o beabá super-heroico. Quando o filme entende que não é mais capaz de desdobrar sua trama, recorre à galhofa ou uma nova briga sanguinária e brutal - que de certa forma define a dinâmica entre Deadpool e Wolverine e ao longo do filme a justifica.

Sem promover a grande revolução que prometeu na Marvel, Deadpool & Wolverine chega mais como um filme sobre o passado do que sobre o futuro. Mirando em seu próprio nicho, que inclusive exige que seu público conheça de desventuras de bastidores para entender parte das piadas, a produção tentar restabelecer o hype orgânico em torno das produções de super-heróis enquanto macula o próprio legado ao som de uma excelente playlist dos anos 2000.

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